As lives de NPC estão bombando no TikTok e têm chamado a atenção nas últimas semanas. Na verdade, esse tipo de live já existia antes na plataforma, mas explodiu recentemente em terras brasileiras. Uma das pioneiras neste conteúdo é a Natuecoco, uma japonesa que interpreta uma personagem baseada em animes e jogos de RPG, que realiza movimentos repetitivos, diálogos padronizados e interações limitadas com seus espectadores mediante a recompensas, dando a origem do nome NPC, que no game são personagens não jogáveis, ou seja, tem seus movimento limitados.
Os criadores de live no TikTok podem receber presentes digitais dos espectadores que podem ser convertidos em dinheiro real. Vendo uma oportunidade de ganho, os criadores da live NPC ficaram parados e só interagem com seus espectadores mediante ao recebimento desses presentes, se tornando esta a maior fonte de renda da live, que já ganha pela sua quantidade de visualizações.
Quais são as regras do jogo?
Traço aqui um paralelo, entre as Lives NPC e a série da Netflix Round 6, caso não tenha assistido, é uma série que retrata um reality show, onde pessoas endividadas passam por situações extremas que irão levá-las à morte em busca do grande prêmio em dinheiro, baseadas em brincadeiras infantis, onde são assistidos pelos vips, que determinam as brincadeiras que querem. Mas qual é o paralelo entre as duas? Poder.
Você controlar o outro, como controlar o outro, como se fosse um personagem, pode trazer uma falsa sensação de poder/domínio, então gastar uma grana pra ver um tiktok em um situação que é considerada vexatória, pode ser tornar entretenimento.
Era até esperado que esse tipo de comportamento fosse transposto para as mídias sociais e se propagasse rapidamente devido à facilidade e ao alcance das redes. Revela uma zona cinzenta do comportamento humano porque as pessoas que pagam esses presentes podem nem perceber, mas curtem apagar o próximo em troca de entretenimento.
E por que as pessoas fazem esse tipo de conteúdo?
Porque a entrega pela plataforma de vídeos, antes da atualização do TikTok, era vista como certa e o dinheiro chegaria mesmo que as lives durassem horas e fosse constrangedor estar ali. Ou seja, “passava vergonha, mas estava sendo pago”. Mas, em longo prazo, o formato pode ser frustrante e limitador para os criadores de conteúdo, pois exige que eles se fixem a um repertório escasso de ações e expressões, abrindo mão da própria personalidade, o que pode levar à destruição do corpo e da mente. Deixando de “ser humano” para se tornar um personagem, será?
Muitos criadores dessas lives de NPCs argumentam que são justamente esses conteúdos que pagam as suas contas e põem comida na mesa e que de outra forma não ganhariam a quantidade de dinheiro que recebem. Pode ser um argumento válido, mas fica a pergunta: até que ponto você anularia a sua identidade para satisfazer os desejos de um estranho que te dá dinheiro?
Afinal, o que é relevante?
A comunicação daqui para frente, provavelmente será cada vez mais personalizada, as empresas vão usar algoritmos, definir personas para entender o que os usuários querem ver e ouvir e irão adaptar a sua comunicação de acordo.
Para se comunicar com a geração que está por vir é importante entender as suas preferências e o seu comportamento. As pessoas dessa geração são mais propensas a consumir conteúdo em formato de vídeo e são mais tolerantes a formatos de comunicação não convencionais. Mas, é importante lembrar que não existe uma única maneira de se comunicar com essa geração, o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. O segredo é testar diferentes formatos e abordagens para encontrar o que funciona melhor para o seu público.
E o TikTok?
A plataforma vem fazendo um esforço para ser uma ferramenta de conteúdo relevante. A empresa está investindo em algoritmos que recomendam conteúdo agregador para os usuários numa tentativa de incentivar a produção de conteúdo original e de alta qualidade. No caso das lives de NPCs, o TikTok tomou uma medida para limitar a distribuição desse tipo de conteúdo e já fez uma atualização no sistema de detecção automática nas lives para restringir, banir ou bloquear conteúdos vistos como repetitivos, manipuladores ou de engajamento falso.